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  • Foto do escritorRoberta Züge

TUBERCULOSE BOVINA

Atualizado: 30 de ago. de 2019


Periodicamente há notícias sobre abate de muitos animais, de um mesmo rebanho, por conta estarem acometidos por tuberculose.


A tuberculose bovina (TB) é uma zoonose causada por uma bactéria Mycobacterium bovis, apresenta sérios riscos tanto à saúde pública humana quanto à veterinária, em especial em indivíduos convalescentes ou imunodebilitados, pela susceptibilidade do homem ao agente, além de ocasionar impactos à produtividade dos rebanhos (diminuição da produção de leite e da vida produtiva, maiores custos de reposição, diminuição da taxa de conversão alimentar e taxa de fertilidade das fêmeas) e, também, por perdas devido a condenações parciais ou totais das carcaças em matadouros e, ainda, a restrição ao comércio internacional de produtos oriundos de propriedades, e até regiões, onde foram registrados focos da doença.


Estima-se que o animal com tuberculose perca de 10% a 25% de sua eficiência reprodutiva além da perda de prestígio e credibilidade da unidade de criação onde a doença é constatada.


São impactantes as perdas econômicas com baixa na produtividade dos rebanhos e a condenação de carcaças, em matadouros, devido à tuberculose, uma vez que os animais não podem ser tratados e devem ser descartados em abates sanitários. A doença tem impacto econômico e social para a cadeia produtiva do agronegócio brasileiro, além de ser uma zoonose de ampla distribuição.


A doença acomete a população de muitos países, principalmente os menos desenvolvidos. Trabalhos realizados na Nigéria indicam que a ingestão de carne contaminada como responsável por cerca de 45% dos casos de tuberculose em humanos. Com relação à América Latina, há pesquisas que estimam que cerca de 8% dos casos de tuberculose humana sejam causados pela tuberculose zoonótica.


Como no Brasil são notificados, anualmente, 85 mil novos casos de tuberculose em humanos, o que corresponde a um coeficiente de incidência de 47 infectados para cada 100 mil habitantes, segundo dados do Sistema de Informação do Ministério da Saúde, 6,8 mil desses casos poderiam ser atribuídos à transmissão pelos animais. Considerando os custos do tratamento para casos de tuberculose de US$ 103,00 para cada novo caso, só os custos relativos à tuberculose zoonótica seriam de cerca de US$ 700.400,00 por ano. Cuidar da tuberculose dentro das propriedades significa menos gastos no sistema de saúde. Lembrando que este valor são gastos com medicamentos, sem atribuir as perdas do indivíduo como não trabalhar, ficar recebendo pensão, etc.


Em uma notícia veiculada recentemente, o produtor perdeu 190 animais, que foram abatidos por serem reagentes para tuberculose. Quando entrevistado, indicou como possível fonte os prestadores de serviços; inseminadores e médicos veterinários: “Não limparam as botinas ou trocaram de roupa entre um e outro atendimento nas propriedades. Com isso, a bactéria pode ter infectado meus animais”. De fato, os cuidados com Biosseguridade são cruciais para manter o rebanho longe de infecções.

Sem entrar no mérito de qual realmente foi a fonte de infecção, neste caso citado, que, na maioria das vezes, está na introdução de animais infectados no rebanho. Mas para descobrir a etiologia do agente é realmente bem complexo e custoso, serão citadas algumas práticas importantes para prevenir a entrada de agentes como o M. bovis e, também outras enfermidades como de brucelose. Outra doença que também compromete o rebanho e tem controle obrigatório. Lembrando que o ser humano também pode ser acometido pela brucelose.


Dicas importantíssimas:


  • Manter, sistematicamente, o rebanho sob avaliação sanitária. Os testes devem ser realizados por médicos veterinários, credenciados pelas agencias sanitárias. No link ao Ministério da Agricultura, Pecuária e abastecimento há o nome do profissional habilitado, separado por estado e indicado o município. http://www.agricultura.gov.br/animal/registros-e-autorizacoes/habilitacao-de-medicos;

  • Nunca adquirir animais sem que tenham sido testados e sejam negativos para as doenças;

  • Priorizar a aquisição de animais provenientes de propriedades certificadas de livre para Tuberculose e Brucelose;

  • Quando adquirir novos animais, mantê-los em local de quarentena, sem acesso aos demais animais do rebanho. Realizar novos testes. Somente agrupá-los após os resultados negativos;

  • Manter um procedimento sanitário rigoroso, cumprindo o calendário vacinal obrigatório e, também, as demais vacinas indicadas pelo médico veterinário. Guardar os registros;

  • Sempre avaliar o rebanho, quando perceber mudanças de comportamento ou produção, comunicar o médico veterinário. Quando possível, segregar o animal enfermo dos demais, para prevenir o contágio;

  • Evitar o máximo possível o contato de visitantes. Quando existir, solicitar um período de “vazio sanitário” (prazo sem contato com outros animais e estada em outras propriedades). Utilizar botas plásticas descartáveis. Avisar que fotos sempre são bem-vindas, mas fazer o bezerro mamar na mão (calçado, braço, roupa, etc.) do visitante, não;

  • Solicitar que o médico veterinário ou inseminador, ou outros profissionais que adentrem a propriedades e sejam contactantes dos animais, utilizam roupa ou macacão limpos, que não tenham sido utilizados previamente em outros rebanhos;

  • Os utensílios e equipamentos, utilizados pelo médico veterinário, devem ter sido previamente higienizados/esterilizados. As luvas descartáveis devem ser descartáveis, assim como as agulhas. Isto, de palpar todo o rebanho com uma luva só, é um prato cheio para a danças das bactérias e vírus;

  • Manter cães e gatos longe dos animais de produção e de seus alimentos. As fezes dos gatos podem transmitir toxoplasmose, os restos placentários de cães podem transmitir neosporose. A toxoplasmose também é uma zoonose (acomete os humanos), e é responsável por perdas de produção, abortos, etc. A neosporose não é uma zoonose, mas também desencadeia perdas no rebanho. Se possível, também manter longe de outros animais, como cachorros do mato, guaxinins, morcegos, pombos, etc. Eles também são vetores de diversas doenças;

  • Evitar que veículos passem nas áreas de circulação de animais ou de pastagem. Tentar manter o estacionamento destes veículos bem distantes de onde se concentram o rebanho. Uma caminhadinha (com as tralhas da lida) pode ser um bom exercício;

  • Vizinhos, mesmo que também sejam produtores, devem seguir as premissas impostas aos visitantes, tomar chimarrão e prozear não precisa ser perto das vacas, nem dos locais de armazenamento de alimentos, etc.;

  • Evitar que os partos ocorram em pastos, para que os restos placentários não sejam ingeridos por outros animais do rebanho. Esta é uma das principais formas de transmissão da brucelose nos rebanhos bovinos. Caso não tenha outra opção, criar piquetes menores, individualizando o acesso. Somente introduzir outros animais depois de verificar que não existam mais restos placentários;

  • Outro ponto, muitas vezes negligenciado, é a qualidade da água fornecida. Diversas enfermidades podem ser transmitidas pela água;

  • Assim como a água, os alimentos também podem ser fontes de contaminação. Controle de roedores é muito importante, do mesmo modo, as características do armazenamento. Áreas úmidas podem proporcionar que fungos, além de estragarem parte da comida, ainda gerem toxinas que são bem prejudiciais aos animais. Também, clostrídios podem contaminar os alimentos, causando doenças nos animais.

No início algumas pessoas não gostam das medidas. Pode parecer preciosismo. Mas, prevenir é sempre melhor (e menos custoso) que remediar, o ditado é antigo, mas continua verdadeiro.




 

Roberta Züge Diretora administrativa do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)

Vice-Presidente do Sindicato dos Médicos Veterinários do Paraná (SINDIVET)

Médica Veterinária Doutora pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP)

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